Textos / Espiritualidade Dual

Esta página é aberta com um pequeno artigo comentando diferenças entre as concepções dual e não-dual de espiritualidade e contém vários textos representativos da concepção dual.

Todos eles são extraídos de livros de autoria do professor Walter Andrade Parreira e trazem, no rodapé, a referência bibliográfica.

Ao clicar em qualquer texto, ele se abrirá e, se desejar, você poderá baixá-lo.

Dualidade e Não-dualidade

Walter Andrade Parreira

Todas as religiões têm uma face dual e uma face não-dual em sua concepção sobre espiritualidade. A primeira, que também pode ser designada como “exotérica”, é destinada a todos os fiéis, ao grande público (“exo” significa “para fora”, “ex/terior”), enquanto a “esotérica” é reservada apenas a um pequeno círculo, aos discípulos mais avançados, aos “iniciados” (“eso” quer dizer “dentro de”, interior – por exemplo, no cristianismo, o pequeno grupo dos apóstolos de Jesus).

 As concepções fundamentalistas (fazem uma leitura “ao pé da letra dos textos sagrados) e as místicas¹,² (propõem interpretações desses textos) são exemplos, respectivamente, das faces dual e não-dual das religiões e ambas as concepções estão presentes em todas elas.

Em poucas palavras podemos dizer que o pensamento ou ponto de vista dual entende uma ruptura radical entre criatura e criador, seja Ele denominado como Deus, Brahman, Atman, Allah, Dharmakaya, Krishna, Vishna/Shiva, Consciência Pura, Yahweh (YHWH) ou Jeová, Adonay, etc. As concepções não-duais (ou da não-dualidade), por sua vez, entendem uma indissociabilidade entre criador e criatura (essa visão está presente, por exemplo, na Bíblia, entre outras passagens, na expressão magna de Jesus: “Eu e o Pai somos Um”).

“Dualidade é duo, é divisão, é dividido. Não-dualidade provém da espiritualidade ou sabedoria oriental, em especial do Advaita Vedanta (“Advaita” significa não-dois, não-dual; Vedanta deriva de “Vedas”, as escrituras sagradas fundantes do Hinduísmo)³.  O homem é uno com o Todo, não há separação entre ele e o Divino. A consciência humana, dimensão que nos conecta ao mundo e que, também, nos separa de tudo o que existe, é, para a Não-dualidade, uma manifestação da identidade verdadeira e essencial do ser humano: a Pura Consciência, que é una, não comporta dualidades.”⁴

Além de estar presente na maneira como a Espiritualidade concebe a relação criador/criatura, os modos de ver dual e não-dual representam uma divisão importante também na Filosofia e na Psicologia. Todas as correntes filosóficas – assim como as teorias de personalidade e as abordagens psicoterápicas – se apoiam em um modo próprio de conceber a consciência, dimensão fundamental e fundante do ser humano. Enquanto algumas escolas propõem uma separação homem/mundo ou sujeito/objeto, para outras não existe tal dualidade, como não há um mundo externo “em-si”, independentemente de um olhar a mirá-lo. Para a não dualidade, o ser humano não é um “ser/separado”, não é uma parte de um Todo; a noção de indivíduo ou de personalidade e de uma relação objetalizada é considerada um equívoco, uma ilusão. Para a espiritualidade não-dual, a consciência egoica é uma manifestação da consciência entendida como a natureza imanifesta e essencial do ser humano, denominada de Consciência Pura, também conhecida como Consciência sem sujeito e sem objeto, Consciência Silenciosa, Consciência sem palavras e sem pensamentos, Consciência sem conteúdos, Consciência Cósmica, Consciência Universal.

¹ “Espiritualidade mística é a concepção de espiritualidade que se refere à vivência da vida contemplativa ou, como a define DURCKEIM (1988), “à busca do encontro com o Ser Essencial que habita o humano
IN: Fenomenologia e espiritualidade: consciência e meditação. Revista Memorandum, UFMG e USP. Volume 27, n. 27, outubro 2014. Disponível em: http://seer.ufmg.br/index.php/memorandum/article/view/6371

² Mística pode ser entendida como a “união com Deus”, “a unidade com o Divino”, a “experiência do Absoluto”, “a vivência do Sagrado” e, não por acaso, é uma palavra que tem o mesmo radical de mist/ério. É a apreensão ou compreensão, ao nível do vivido, da experiência e das mensagens originais dos grandes mestres sagrados da humanidade (Jesus, Buda, Krishna, Lao-Tsé, São Francisco de Assis, Santa Teresa de Ávila, São João da Cruz, Shankara, Ramana, Nisargadatta…).
IN: PARREIRA, Walter Andrade. A Busca chega ao Encontro – Consciência, Meditação e Transcendência sob a luz dos ensinamentos de Nisargadatta Maharaj, Ramana Maharshi e outros mestres da Não-dualidade. Belo Horizonte: Mosaico, 2021 (Introdução – página 12).

³ Os Vedas datam de milênios e receberam, principalmente por parte do sábio Shankara (ou Shankacharya, entre outros nomes que o identificam), no início do séc. IX d.C., uma reinterpretação que resultou na consolidação do Advaita Vedanta como uma das fontes de sabedoria e caminho de libertação pessoal mais ricas, importantes e conhecidas da Índia e uma das maiores produções da humanidade.

⁴ IN: PARREIRA, Walter Andrade. A Busca chega ao Encontro – Consciência, Meditação e Transcendência sob a luz dos ensinamentos de Nisargadatta Maharaj, Ramana Maharshi e outros mestres da Não-dualidade. Belo Horizonte: Mosaico, 2021 (Introdução – páginas 11/12).

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